sexta-feira, 15 de junho de 2012
O PROBLEMA DOS LATIDOS
Difícil encontrar quem já não tenha passado pelo incômodo dos latidos dos próprios cães ou mesmo dos cães dos vizinhos, gerando sempre aquelas reclamações, brigas e infindáveis situações desagradáveis. O cão que late muito, aquele latido crônico, aparentemente sem razão nenhuma é um transtorno, um aborrecimento que tira a paz e tranqüilidade de qualquer um.
Este tipo de latido não é saudável inclusive para o próprio cão, pois estes latidores contumazes prejudicam a si mesmos gerando um círculo vicioso terrível, ou seja, quanto mais late, mais ansioso fica, passa a latir mais e isso causa stress no animal, provocando alterações no sistema imunitário, queda de resistência e em casos mais graves até úlceras.
Por outro lado, analisando mais cuidadosamente o problema dos latidos, sabemos que todo comportamento tem uma causa e portanto, se a causa ou as causas da ansiedade do cão forem conhecidas e se possível eliminadas, este comportamento poderá ser modificado.
Entretanto, se tentarmos solucionar o problema dos latidos por ansiedade sem saber a causa, poderemos causar outro problema, ou seja, o cão até poderá reduzir os latidos, mas começará a ter outro hábito desagradável como cavar o jardim, roer móveis, etc.
Antes de mais nada vamos comentar algo sobre o latido para procurarmos identificar o tipo de latido, pois o latido envolve diferentes tipos de sons que representam várias mensagens passíveis de serem compreendidas. O cão muito jovem não pára de pedir socorro à mãe, geme por uma multidão de pretextos, quando está com frio, com fome, com dor, quando está só e até mesmo com vontade de evacuar. Por volta de uns 10 dias de idade, além de choramingar, protestar, já começa a vocalizar seus primeiros latidos.
Quanto mais cresce, mais utiliza a voz. O repertório de sons varia com a freqüência, duração, ritmo, volume e o latido que de rosnado, uivado e ganido, passa a ser fruto de sábias misturas de sons e todos eles com significado próprio. Como tudo na natureza, este concerto não é nenhum ato gratuito e ao contrário do que muita gente pode pensar, ele tem uma razão para existir.
Sempre o cão tem vários motivos para latir, para saudar o dono quando chega em casa, para convidá-lo para brincar, quando está contente, quando está com fome e sede, etc.. Quando um cão late à chegada de um estranho ou alguém rondando a casa, além de ser um sinal de advertência com o intuito de intimidar, o cão também está se esforçando para não ter medo e está procurando trazer outros cães ao seu lado, assim como fazia antigamente no estado selvagem.
Já o ato de uivar é um modo de expressão dos mais contagiosos. Quando um cão uiva ele está sendo localizado por outros cães que mesmo a centenas de metros de distância, passam a responder seus apelos e o diálogo não tem fim. No mundo canino quando um cão quer ser tranqüilizado e pedir socorro, é através do uivo que ele se declara.
Portanto os cães para se manterem saudáveis psicologicamente necessitam se manifestar e emitir sons. Já quando passam a latir em demasia, algo vai mal em sua vida. Sempre é bom lembrar que o cão não vive só de comida. Se ele está afastado do convívio familiar, isolado e amarrado no fundo do quintal, se está sendo provocado por estranhos no portão de casa, se está com medo, pedindo socorro, etc., poderá desenvolver comportamentos desagradáveis como o de latir em excesso. Depois quando este comportamento é aprendido o animal não pára mais de latir e geralmente bater e dar broncas não resolve mais o problema.
O cão é considerado um animal social e para ele é fundamental algum tipo de convívio e afeto. Os passeios e exercícios são muito importantes para aliviar o estress, assim como os brinquedos e ossinhos que são destruídos e aliviam a tensão. É preciso verificar também se o cão está sadio, pois se tiver com algum desconforto, é necessário procurar algum veterinário para receber a orientação adequada sobre tratamentos e cuidados básicos.
Hoje em dia existe formas de adestramento para ensinar o animal a latir menos e temos até coleiras anti-latidos. As técnicas de adestramento se baseiam em recompensas pelos comportamentos desejáveis e punição pelos indesejáveis. Por exemplo, se toda vez que o cão late, for levado um osso ou biscoito para acalmá-lo, estaremos justamente reforçando o problema. O melhor a fazer é ignorá-lo toda vez que ele latir. Se você fizer isso, ele estará fracassando e o fracasso sempre costuma ser uma ótima punição. Por outro lado, quando o cão não latir, deve receber carinho, atenção, biscoito, ou alguma coisa que o agrade. Com isso, rapidamente ele saberá com as repetições de punição e recompensa, o que o dono quer dele.
Outra técnica utilizada é a da punição despersonalizada: toda vez que ele latir, jogamos água ou algo que o assuste. Neste caso, para que a técnica funcione, é muito importante que o cão não veja o dono, para que não associe o castigo com a presença do dono, mas sim com os latidos. Isso tende a inibir a repetição do comportamento do cão porque será feita uma associação do latido com o acontecimento desagradável.
No caso das coleiras anti-latidos o cão também aprende a parar de latir em demasia. Esta coleira possui sensores que detectam o latido do cão. Quando o animal late, a coleira emite um pequeno choque, vibração, jato de citronela ou algo que cause desconforto e isso desencoraja rapidamente o animal a latir. Depois que o animal aprende, poderemos usar outra coleira enganando-o. Infelizmente, estas coleiras são importadas e raras no Brasil e além disso, o seu uso exige que todas as instruções e cuidados sejam seguidos para que o animal não seja prejudicado.
Existe atualmente uma cirurgia que está causando considerável polêmica nas entidades protetoras de animais e até entre os veterinários, a cordotomia, a qual desliga as cordas vocais tanto de cães como de gatos evitando assim latidos e miados excessivos e como resultado passarão a emitir latidos e miados sussurrados. Os veterinários adeptos da operação dizem adotar a cirurgia em situação extrema , já que é irreversível e que por ser uma intervenção cirúrgica rápida (uns 15 a 20 min), afirmam que o animal não sofre nada.
Nós da Policlínica Veterinária de Cotia acreditamos que a cordotomia é uma mutilação tanto física quanto psíquica, pois latir ou mesmo miar como já vimos anteriormente é de vital importância para os animais, pois é uma forma de comunicação dos cães e dos gatos e portanto não a fazemos e nem a recomendamos.
A posse de um animal sempre deve ser responsável e quando resolvermos ter um cão ou um gato, ou mesmo outro tipo de animal, deveremos já ter em mente as conseqüências que irão advir. Poderemos inclusive procurar um adestrador, ao invés de expormos o animal a uma medida tão anti-natural, pois não temos o direito de tirar essa importante manifestação existencial do animal. Que dono não ficará agradecido se seu cão, ou mesmo o cão do vizinho latir e evitar que sua casa seja invadida por estranhos ou algum outro mal aconteça? Na verdade, cabe a nós seres humanos e inteligentes que somos procurarmos entender a mensagem contida da linguagem dos animais e sabermos captar seu apelo.
Daqui.
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