Nas ruas, perambulam por todos os cantos cachorros de toda a ordem: vira-lata, entra-lata, sai-lata, rasga-saco, fura-saco, fuça-lixo, cata-restos etc. É um se vira nesse vira e revira da sobrevivência, em que disputam as sobras com humanos, no intuito de escapar da perseguidora falência. Lá estão eles nas esquinas, sozinhos ou em grupos, deitados ao sol ou revirando latas de lixo. As costelas magras apertam a pele de um corpo faminto e enfraquecido pela subnutrição. A pata traseira mal consegue ser erguida para coçar a orelhinha sardenta. Puxa, além de todos os padecimentos, a imundície das ruas lhe trouxe mais este tormento. Que sarna! Ainda bem que não é sarna humana… E cada um pode conviver com a sua sarna sem correr o risco de poder recebê-la e transmiti-la de um para outro.
Nas noites gélidas de inverno, o frio castiga um corpo trêmulo, marcado por um descompassado bater de dentes. No sol escaldante do verão, o calor traz uma sede implacável. Onde encontrar água por essas ruas empedradas e asfaltadas? Que natureza estranha e hostil à sobrevivência de um cão abandonado nesse mundo humano! Quanto martírio! Quanto sofrimento e tristeza de uma sobrevivência abandonada! É assim que são tratados aqueles que são considerados os melhores amigos dos homens?
Mas não há motivos para se surpreender com o mundo humano. Quem abandona os próprios seres que gerou se importará muito menos com o abandono de seres diferentes.
E os cães abandonados ficam aguardando um gesto de resgate, de generosidade e de responsabilidade daqueles que lhes tiraram da vida selvagem para vivenciarem não só a domesticação, como também a convivência de uma evolução.
Marcio Linck
ANDA
Agência de Notícias de Direitos Animais
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